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Ni Hao,
Assim que chegamos à Shenzhen, uma experientíssima brasileira me deu uma dica super importante: _Equipe cada um dos seus filhos com um celular e o endereço de casa escrito em caracteres por que, se eles se perderem, nunca mais vão conseguir voltar para casa!
Diante de tal afirmação, equipei-os rapidamente, não só com o telefone e o endereço de casa, como também com vários outros endereços úteis, além do telefone da empregada e de frases-chaves para trocar com os taxistas.
Apesar de carregar toda esta porcariada na minha carteira, entrar num taxi é sempre uma aventura. A gente fala o endereço, pergunta se o cara entendeu e aguarda. Se ele não falar nada e ligar o taxímetro, é porque entendeu. Se ele desandar a falar, a gente repete mais 3 vezes tentando diferentes entonações e fecha com a frase “ni zhi dao ma?” que significa, “você conhece/sabe?”. Se ele não ligar o taxímetro de jeito nenhum, melhor sair do táxi e pegar outro, antes de acabar perdida nesta mega cidade de mais de 15 milhões de habitantes.
Houve uma época em que meu filho menor, o Dudu, pegou uma mania chata de perguntar “ni zhi dao ma?” depois que o cara já tinha ligado o taxímetro e arrancado com o carro. O motorista olhava para o banco de trás e começava a perguntar tudo de novo confundindo o que já estava mais do que resolvido. Eu e as crianças passamos a entrar no táxi, dizer o endereço e mandar o Dudu calar a boca automaticamente.
Enfim, foi com o Dudu que vivi uma nova e angustiante experiência quando ele tinha 10 anos. Certa vez, ele foi à casa de um amigo perto da escola e eu aproveitei para testar sua independência:
_Dudu, volta para casa de ônibus. Pega o 109 ou B687 ou o J1 e salta na estação Xin Jie. Vai ser moleza, filho!
Meia hora mais tarde, me liga o Dudu:
_Desci na estação, estou reconhecendo as raízes das árvores no chão, mas não sei onde estou.
_ Raízes? Ah, tá! Lembrei. Mas peraí, Dudu, o ponto de ônibus cheio de raízes no chão fica do outro lado da rua onde se pega o ônibus para ir para a casa do amigo e não para voltar. Você está voltando!
_Não tô entendendo nada desse negócio de ir e voltar!
_ Onde você está?
_ Não seiiiii!!!!
_ Olha para cima. Dá para você ver o nosso prédio que é super alto?
_ Mãe, só tô vendo árvore!
_ Qual o nome da estação?
_ Onde a gente lê o nome da estação?
_ Naquela placa cheia de caracteres que fica aí no ponto do ônibus.
_ Não estou mais no ponto.
_ Volta para o ponto e lê o nome!
_ O nome é Dongjiaotou! Eu me lembro! Desci na Dongjiaotou!
_ Caraca, porque você desceu na Dongjiaotou se eu falei para descer na Xinjie?
(Parênteses: Sentiram como decorar e ler todos esses nomes não é moleza?)
_ Eu achei que era essa!!! Estou voltando para o ponto. Faço o que agora?
_ Pega o ônibus de novo e salta uma estação para frente porque você desceu uma antes. (Parênteses: agora fui eu quem errei. Ele já tinha descido uma para frente e eu mandei-o ir mais para frente ainda!)
Eu de novo:
_Já pegou ?
_ Já.
_ A trocadora perguntou para onde você vai? (Em Shenzhen, a passagem varia de acordo com a distância percorrida, por isso, antes de cobrar, a trocadora sempre pergunta para onde a gente está indo).
_ Ela tá falando comigo. Não tô entendendo nada. Fala aqui com ela.
_ Dudu!!!! Não passa o telefone para ela!!!!Du… Ah, Ni Hao. Xinjie, Xinjie.
_ Mãe, ela balançou a cabeça e olhou para trás. Agora fez uma volta com a mão. Não sei onde eu tô. Vou descer, vou descer!
_ Então desce que eu vou te procurar!
_ Ela tá dizendo para eu não descer. Não vou descer!!!!
_ Desce!!!!!!!!!!!!!!!!!!
E lá fui eu, num sol de fritar ovo no asfalto, atendendo o celular de 10 em 10 segundos para acalmar o Dudu que estava a 5 estações depois da nossa casa!
Voltamos à pé para ajudá-lo a memorizar o caminho, mas tive que aguentar a maior ladainha de “nunca mais eu ando de ônibus, eu te avisei que isso não ia dar certo, vou pegar o metrô, só vou andar de táxi, é impossível viver aqui, olha para isso, é tudo igual, tá vendo as raízes no chão…. e, por fim, como é que vocês viviam sem celular quando eram crianças?”.
Sei lá. Vocês se lembram?
Enfim, depois disso tudo, o que o Dudu fez ontem voltando para casa, de táxi?
Perdeu o celular… pela terceira vez! Merece ou não ficar perdido por aí?
Veja como é fácil!!!
Christiane Dumont é certificada pela Sociedade Brasileira de Coach em Life&Personal Coach e atende pessoalmente e por Skype. Pós-graduada em propaganda e marketing, vive há quase cinco anos em Shenzhen, na zona do Cantão na China. Casada, mãe de 3 filhos, trabalha fornecendo suporte a brasileiros que desejam fazer negócios, estudar ou conhecer este país, além de escrever para mídias sociais sobre suas experiências como expatriada.