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Pai Dui | China | Mapa da Educação Internacional | MAPAei

16 junho 2015
Category
China
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Ni Hao,

Alguém aí já leu o Guia Politicamente Incorreto da Filosofia do Luiz Felipé Condé? Como ele mesmo diz, o livro foi escrito para ser desagradável com um tipo específico de pessoa: a politicamente correta.

Em determinado momento, ele escreve:

“Se pensarmos bem, veremos sociedades que primam por se julgarem justas socialmente, como grosso modo, a Europa Ocidental, principalmente, a Escandinávia, que tem uma população de uns mil habitantes. Claro que ironizo, mas não é muito mais do que isso se compararmos com países como Brasil, Estados Unidos ou China, nos quais “gente” é riqueza e maldição ao mesmo tempo. É fácil você pregar sobe convivência com o outro quando sua população é rica e quase todo mundo tem olhos azuis, é loiro e tem um nome do tipo Amundsen.”

Exageros a parte, é realmente muito difícil conviver com seres humanos que precisam lutar pela sobrevivência todos os dias, como a maior parte dos chineses. No Brasil, a gente também tem que batalhar pacas para ganhar a vida, mas nós somos apenas 190 milhões enquanto que os chineses totalizam um bilhão e 300 milhões! Talvez por conta desta pequena diferença de mais de um bilhão de pessoas, nós consigamos ser um pouco mais “civilizados” em alguns quesitos como, por exemplo, fazer fila!

Assumidamente influenciada por Luiz Felipé Condé, vou jogar meu lado politicamente correto no lixo e vomitar minha ira contra esta mania enjoada dos chineses de não fazer fila para nada.

Por exemplo, todas as vezes que precisamos pegar o ferry para Hong Kong, rola sempre uma tensão. Na hora do embarque, o povo até ensaia uma fila, fica todo mundo um atrás do outro, bonitinho, organizadinho, mas à medida que o horário de saída se aproxima, inicia a encheção de saco. A galera começa a se mexer, a mudar de posição, a dar um passinho para frente, depois mais outro. Em seguida, a nossa visão lateral, antes vazia, começa a ser preenchida por gente de olhinho puxado, até que alguém emparelha com você e, num saltinho, coloca um ombro de diferença à sua frente.

Pronto! Incontrolavelmente, nosso cérebro pseudocivilizado volta ao tempo das cavernas e nosso homem de Neandertal sai do armário, tranca as mandíbulas, estufa o peito e grita:

“Pai Dui”  排队

Pai do que?

Pai duei. É assim que se pronuncia “fazer fila” em mandarim.

Podem perguntar para qualquer expatriado quais foram as primeiras palavras que ele aprendeu a falar quando chegou na China que, certamente, “pai dui” será uma delas.

Outro dia fiquei, educadamente, esperando quatro pessoas levantarem de uma mesa no Starbucks para eu poder sentar. Três levantaram, porém uma delas ainda ficou sentada arrumando as coisas na bolsa. De repente, um casalzinho entrou na minha frente e se sentou à mesa com a mulher ainda lá, guardando seus apetrechos.

O que eu gritei mesmo, leitores? Pai Dui!!!

O casalzinho olhou para mim com cara de “o que foi que eu fiz?” e eu senti que eles realmente não tinham furado a minha frente de ato pensando. Aquilo foi maior do que eles! Estava no sangue, no DNA, na educação que receberam dos pais, na revolução cultural ou sei lá o que mais.

Isso é o que me faz detestar mais ainda esta mania de não fazer fila. É que eu não tenho coragem de brigar com ninguém e ainda fico me sentindo mal pela pessoa que furou a fila. Ou seja, todos os sentimentos envolvidos neste “momento-diferenças-culturais” são para lá de ruins.

Outras filas que os chineses não gostam de respeitar são a do elevador, do ponto de taxi, do balcão de pesar frutas no supermercado, do cinema, enfim, todas! Mas quem sai na chuva é para se molhar. Quer morar na China? Aprende a falar “pai dui” e sai da frente que atrás vem gente!

foto1

Homem das cavernas asiático no museu de história de Hong Kong.

 

 

Foto Chris

Christiane Dumont é publicitária e vive há quase quatro anos em Shenzhen. Casada, mãe de 3 filhos, ela trabalha fornecendo suporte a brasileiros que desejam fazer negócios, estudar ou conhecer a China. Christiane também escreve para sites e mídias sociais e atua como gerente de marketing de um centro de língua e cultura que visa estreitar as relações entre chineses e estrangeiros do mundo inteiro. Ela é parceira exclusiva da MAPAei na área de educação e organiza o Programa Welcome Plus em Shenzhen.

 

 

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