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你好,
Ni hao,
Qual a primeira coisa que se oferece a uma “mãe de família” quando ela vai morar em outra cidade? Levá-la para conhecer os supermercados, é claro. Fazer compras para mim sempre foi uma obrigação, mas na China, confesso, é uma aventura diferente a cada nova saída. Em 2011, com um pouco mais de um mês em Shenzhen, e sem muita coisa para fazer, já conhecia uma gama de supermercados que iam desde as multinacionais como Carrefour e Walmart até às marcas locais como o Ren Ren Le e A.Best.
Meu debut aconteceu no Walmart. Eu trouxe do Brasil um dicionário fantástico, dividido em seções como Escola, Casa, Escritório, Restaurante etc, com a foto do objeto e seu nome escrito em caracteres chineses, em pinying (fonética dos caracteres escrita em alfabeto ocidental), em português e em inglês. Ou seja, bastava apontar o dedinho para a foto do shampoo ou do detergente que os chineses se empenhavam ao máximo para achar o que a gente queria. Enquanto estávamos no andar de cima comprando produtos de higiene, usando e abusando do meu livrinho, tudo estava sob controle.
O problema aconteceu quando descemos para o primeiro andar onde ficam as comidas! Já na esteira rolante, tivemos uma amostra do que nos esperava. Nas laterais da esteira, eles aproveitam para colocar produtos de compra por impulso como, por exemplo, pés de galinha empacotados!!! O nome disso deveria ser compra por repulsa e não por impulso!
Quando ainda estávamos no meio da esteira rolante observando os “snacks”, começamos a sentir um cheiro de necrotério, embora eu nunca tenha estado em um. Quis dar meia volta e ir direto para o aeroporto, mas acabei apenas tampando o nariz e rezando para o defunto não ser muito feio. Graças a Deus, lembrei que o Luiz tinha me alertado sobre o cheiro de uma fruta chinesa chamada liu lian (em inglês, durian) que parece ser da família das jacas, por parte de mãe, e porco espinho por parte de pai. O cheiro da fruta é tão forte, que os hotéis colocam avisos de que é proibido comer durian nos quartos. Se eu já provei? Bem, comi uma vez um folheado recheado de doce de durian, mas não passei da primeira mordida. O cheiro estava lá!
Ao chegar finalmente ao primeiro andar, lamentei profundamente não ter trazido minha vara de pescar e algumas minhocas. Aqui na China, eles são paranoicos com frutos do mar frescos. Tanto em restaurantes como em supermercados, os peixes, camarões, enguias, tartarugas e afins ficam dentro de aquários para você mesmo caçar. Ou melhor, você pode usar uma vara de pescar ou uma cestinha furadinha para pegar os camarões sem precisar tocar nos bichinhos. Fui testar a ferramenta e, assim que a enfiei dentro d’água, os crustáceos de olhinhos puxados nadaram lá para dentro e deitaram (isso mesmo, deitaram!) no fundo. De duas, uma. Ou eles adestram os camarões numa surpreendente estratégia de marketing ou os camarões se fazem de mortos para você procurar outros mais fresquinhos!
Bom, depois de comprar um pacote inofensivo de filé de peixe congelado, fui procurar pela seção de aves para comprar um peitinho de frango. Outro susto! Aqui, se levar o peitinho, tem que levar a cabeça junto com crista e tudo. A gente nem consegue pegar a bandejinha da geladeira, diante de uma galinha que nos olha com cara de “aqui jaz uma pobre galinha que nunca fez mal a ninguém, mas que você vai comer esta noite”.
Desisti de comprar o peitinho e decidi assar umas coxinhas. De novo: se levar a coxinha, tem que levar o pezinho junto. Mas se quiser levar só os pesinhos, não tem problema!
Enfim, peitinhos, cabeças, coxinhas e pezinhos ainda nos são familiares. E quando a galinha é preta? Não estou falando das penas, estou falando da pele! Jamais vi, nem em despacho de macumba, algo tão sinistro. Perguntei uma vez para um chinês por que a galinha era preta. Ele só soube explicar que ela era muito boa para mulheres da minha idade e para crianças pequenas porque fortalecia os ossos (quantos anos ele achou que eu tinha?). Até que uma galinha destas seria bem-vinda aqui em casa, mas confesso que prefiro fraturar o fêmur a cozinhar a neguinha.
Ao lado do cemitério de galinhas, havia uns combos já preparados em práticas bandejinhas para mulheres modernas e muito ocupadas. Um deles tinha uma galinha preta, uma tartaruga e cenouras. Para ficar completo, faltava apenas um mamífero.
No próximo post, vamos fazer uma visita ao mercado municipal. Preparem seus corações.
再见
Zai jian